CICATRIZES
Lembranças e angústias intermináveis
Das trilhas onde andei durante a vida.
Passagens duras, decisões incontroláveis
Vão conosco nos momentos da partida.
Como é frágil esta vida de errante
Ficar sempre de lembrança em lembrança!
Quase um respiro, um suspiro escaldante
Na corda bamba, em total insegurança.
Nunca se sabe o que virá ao pôr do sol
Nem mesmo o que deixamos para trás
Às vezes lembro do cantar do rouxinol
Breve lampejo de alegria tão fugaz
Mais um porto, uma aventura, um desbravar.
Tristeza e alegria intermitentes.
Sigo em frente tento logo encontrar
O que me impele ou me para incontinenti.
Este é o destino, o caminho que escolhi
O que me resta é nunca esmorecer
As cicatrizes das perdas que senti
É que me fazem ir em frente e não morrer.
(Afonso Celso)
Brasília, 25/05/2024
A ESCALADA
Quão íngremes serão esses degraus?
Quanto vou ter que me esforçar?
O clima chegará a quantos graus
Antes que possa, enfim, parar?
Não há caminhos leves, passageiros
Que permitam um momento descansar.
Apenas os espinhos rotineiros
Que me ferem, me cortam até sangrar.
São jornadas, quase sempre, intermináveis.
A procura pela vida, incessante
São momentos bons ou miseráveis
Que se alternam de instante em instante
Não se pode parar ou desistir
Não há tréguas, refúgios ou descanso
É preciso ir em frente, insistir
Para ver se encontramos um remanso.
O final, para todos está escrito
Não há como desviar ou se esconder
Todo o ritual está prescrito
De qualquer modo temos que tentar viver.
(Afonso Celso)
Brasília, 04/06/24
ERROS
O que seria de nós sem os erros cometidos?
Criaturas mais imperfeitas do que somos.
Todos os momentos que tenhamos vivido
Escancaram o caráter que dispomos.
A perfeição não interessa a ninguém.
Errar sempre fez parte do viver
Os acertos nos moldaram, sim, também,
Mas não tanto quanto o fato de perder.
As vitórias, as derrotas, tentativas
Moldaram cada um de nós pra toda a vida
Aventuras, desventuras, são cativas
Estarão sempre presentes na partida.
Que bom que pudemos, sempre, errar!
Ocorreram, de fato, umas vitórias.
O importante é não desistir, sempre tentar.
Só assim formaremos as memórias.
Respondemos, todos nós, por nossos atos.
Ainda bem que não somos infalíveis.
Mas devemos, afinal, sermos tão gratos
Por tornar fatos difíceis, factíveis.
Sempre em frente, cometendo nossas falhas.
Venceremos, desta forma, nossos medos.
Transporemos abismos e muralhas
Transformando-nos em pedras, em rochedos.
(Afonso Celso)
Brasília, 10/06/2024
MATIZES
Todas as nuances que pareces performar,
Todas as faces que mostras ou escondes,
São formas de agredir ou de agradar
Que te levam, mas não sabes para onde.
Trazem sempre escondidos os matizes.
Entregam ilusões ou desencantos,
Desnudam os pudores e raízes,
Terminam quase sempre nos teus prantos.
Proclamam aflições de toda a vida
Desbravam corações e sentimentos
Mas sabes, nelas, não tens guarida
São do teu coração fragmentos
Não importam as formas que aparentas
Sempre é possível desnudar-te
Desvendar as emoções que não ostentas
E as lágrimas que, um dia, derramaste.
Não adiantam tantas dissimulações
Todas as formas de contradizer
Transformam-se quase sempre em ilusões
Te impedem até mesmo de viver.
(Afonso Celso)
Brasília, 19/06/2024
FRAGMENTOS
Passam os dias, os momentos e os anos
E deixamos para trás os desatinos
O tempo ensina, mas não apaga os enganos
O que fizemos, para sempre o sentimos
Algumas coisas marcantes acontecem
Mas são fragmentos de uma vida
Seriam importantes se trouxessem
Esperanças no passado pretendidas.
A estrada percorrida com espinhos
São vencidas a duras lutas travadas
Na dúvida pra escolher nossos caminhos
Acabamos prolongando a caminhada.
Tudo o que acontece, as consequências,
Ocorreram por nossas decisões,
Agora só nos resta a convivência
Com a vitória, o fracasso ou os senões.
Tarde demais para arrependimentos
Não podemos apagar nosso passado
Só podemos ocultar os sentimentos
Frutos de nossos atos impensados.
(Afonso Celso)
Brasília, 28/06/2024
A LUZ
Sempre, nos mais difíceis momentos,
Buscamos encontrar uma opção,
Que nos livre de constrangimentos,
Que nos traga uma saída, a solução.
Até mesmo o mais intrépido herói,
Que desafia o perigo dia a dia,
Que a todos os óbices destrói,
Procura uma oração que alivia.
Não adiante buscar inutilmente,
De forma casual e oportunista.
A resposta para tudo, simplesmente,
É o que está permanentemente à vista.
Os problemas acontecem o tempo todo.
Vão e vem como ocorre uma lembrança.
Vãs ou firmes, sem contorno, sem engodo.
Como um sonho ou pesadelo de criança.
A verdade sempre aparece para nós.
É a mão que afaga e nos conduz.
Que nos salva, que afasta nosso algoz.
É o abraço e o sorriso de Jesus.
(Afonso Celso)
Brasília, 09/07/2024