DESTINO
Às vezes leve, florido e calmo
Outras difíceis, duros, tortuosos
A cada passo, cada dia, cada palmo
Momentos bons e outros impetuosos
Sempre temos uma chance de escolher
De caminhar pelos caminhos mais amenos
Outras somos impelidos a percorrer
Difíceis trilhas, em perigosos terrenos
Algo nos leva para frente e para cima
É a vontade de ganhar ou de vencer
Que nos faz enriquecer a autoestima
Que nos impele e nos permite viver
Que faz a guerra, a ambição ou a paz
Promove encontros, desencontros, frustração
Traz alegria ou uma tristeza contumaz
Nos faz loucos ou imersos na razão
Num dia risos noutro canto uma canção
Corro feliz, busco abraços e pureza
Agora lágrimas, desespero, solidão
Entre lembranças, pensamentos e tristeza
Cada instante deixou sempre registrado
O que passou, que me encanta ou subestimo
Indeléveis marcas incontestes do passado
Flechas certeiras deste alvo, do destino.
(Afonso Celso)
Brasília, 02/08/2022
AO MEU PAI
Um raio de luz me acompanha aonde eu vá
Desde os mais tenros tempos de criança
Nos momentos mais difíceis de lembrar
Me trouxeste uma palavra, uma esperança
Não te vejo, pois, aqui já não estás
Partiste há muito tempo, sem aviso
Tua passagem por aqui, tão eficaz
Me ensinou tudo aquilo que preciso
Caminhavas lentamente, já cansado,
Da lida que tiveste em teu caminho
O teu corpo e o coração sempre arrojado
Caminharam sempre em trilhas com espinho
Tu, pai, me ensinaste o que pudeste
Nunca pretendi que fosse mais
Pois me deste muito mais do que tiveste
E ensinaste o que, na vida, não se faz
A luz, a direção, sempre correta
Muitas vezes era difícil de entender
O amor de um pai sempre projeta
A melhor maneira para o seu filho viver
Vi, então, quando chegou a minha vez
Que a melhor forma de te retribuir
Era passar aos meus filhos o que talvez
Possam ensinar depois que eu partir.
(Afonso Celso)
Brasília, 08/08/2022
MOMENTO FINAL
Passos largos, firmes, sempre em frente
Buscando espaços no infinito
Apressados, destemidos, coerentes
Inconteste liberdade de espírito.
Desafios e disputas a vencer
Momentos de angústias e inconstâncias
Sem possibilidades de perder.
Não importam incertezas, discrepâncias
Cada um se permite o que quiser
Como vive ou seu jeito de morrer
O que vale é fazer o que puder
Não passar pela vida sem viver
Não consigo dizer o que é ser feliz
Não encontro uma palavra que o defina
Isso é fato, todo mundo sempre o quis
Ninguém sabe o que o mundo nos destina
Então, temos que seguir sempre sem medo
Não importam os percalços ou barreiras
Fazer com que a vida tenha um enredo
Vencer as dificuldades derradeiras
Enfim, chegando o momento final
Estar bem, com liberdade, e em paz
Saber que mais o bem do que o mal
Fizemos de forma clara e eficaz.
(Afonso Celso)
Brasília, 19/08/2022
INCONFESSÁVEL
O dia chegou mais belo do que o normal
Algo aconteceu no plácido amanhecer
Mudou, acaso, este olhar tão passional
Ou foi tua luz, tua presença, o conviver?
Aquela flor que recebeu a primeira gota
Do orvalho que caiu esta manhã
Foi a primeira porção de uma cota
De um amor inconfessável num divã
Talvez imaginando o resultado
Que acontece quase sempre no final
É o que me deixa triste, magoado
Mas cumpro, conformado, o ritual
Vou determinado ao teu encontro
Quem sabe desta vez tudo muda?
Não penso em discordância, em confronto
Neste dia inusitado o amor ajuda?
De fato, te encontro diferente
Algo aconteceu em ti também
Vejo um olhar receptivo coerente
Que me leva ao espaço, ao além.
Que bom que mudaste teu pensar
E reconheces este instante de amor
Vamos viver, ficar juntos, celebrar
Transformar todo este frio em calor.
(Afonso Celso)
Brasília, 25/08/2022
PESADELOS
Fujo a galope dos meus sonhos
Perdido
Pesadelos, longas jornadas me perseguem
Ferido
Preciso sair do meio destes fatos bisonhos,
Coagido,
Antes que meus pensamentos me entreguem
Corro por ruas, vielas e ladeiras
Obstinado
Não sei se faço ou apenas deixo acontecer
Procrastinado
Escapo de fatos, caio em lembranças hospedeiras
Embriagado
Vejo que desta vez vou me perder.
Quantos quintais vou ter que atravessar?
Indeciso
Em muitos pensamentos confusos
Impreciso
Buscando trilhas pra me achar
Conciso
Em lembranças e em casos difusos
Tudo é estranho e me enche de pavor
Morto
Sei lá o que acontece desta vez
Absorto
Em sentimentos que me enchem de pavor
Natimorto
Pois me perco em minha própria estupidez.
(Afonso Celso)
Brasília, 02/09/2022
O NÁUFRAGO
Navego em águas turvas, turbulentas
Procurando um porto onde ancorar
Fujo de traumas, de águas lamacentas
Busco um apoio, um ombro pra chorar
Só o que vejo é o abandono deste cais
A tempestade que açoita este momento
Descobre tudo até meu corpo que aqui jaz
Remetendo ao infinito este tormento
Ah quem me dera que poeta fosse
Para poder com estes versos escapar
Desta fuga, desta tortura doce
Que pouco a pouco me faz desesperar
Infelizmente o que chega e corta o rosto
É o furor deste vento impiedoso
Que me lembra tanta luta e desgosto
Me encurrala e me faz sentir medroso
Não há trégua, remanso ou calmaria
Que me retire o sentimento de aflição
Que traga paz agora, nesta noite fria
Em que mergulho sem alento o coração.
Não há sombra ou sequer um porto amigo
Que permita ao meu peito descansar
Sem fugas, refúgio, ao desabrigo
Me permito, sem retorno, naufragar.
(Afonso Celso)
Brasília, 09/09/2022
TEUS ENCANTOS
Teus encantos aparecem todo dia
Em qualquer lugar em que estejas
Não importam teses, sentimentos, teorias
Só os fatos, realidade que festejas
Até os pássaros reconhecem tua magia
Quando cantam em momentos de doçura
O ar, a terra, tudo se contagia
Com a beleza que o mundo emoldura
Palavras, cantos, poesias e emoções
Que repetem dia a dia tua beleza
São retratos, são poemas, são canções
Que tentam traduzir tua pureza
Por onde andas deixas marcas sempre eternas
Carregando apaixonados corações
Ilusões, desilusões que tu alternas
Destruindo e misturando as emoções
Chega a noite e a lua tenta competir
Contigo, a deusa pura desta plaga
São rainhas que a todos faz sorrir
Que, de longe, o nosso íntimo afaga.
(Afonso Celso)
Brasília, 15/01/2023
RAÍZES
Após muitos caminhos, tantas trilhas
Onde será o lugar que as finquei?
Analisando minha vida andarilha
Não sei ao certo quando as deixei.
As raízes nos remetem à nossa vida
Configuram e atestam tudo em volta
E cada dor que esteja escondida
Ou uma lágrima ou sorriso sempre anota
Não se perde um segundo, um instante
Nem mesmo um sentimento, um divagar
Uma tristeza, um pensamento brilhante
Tudo fica marcado em só um lugar
É para onde convergem nossas dores
Onde ficam os projetos de infância
Cicatrizam-se as derrotas, os pudores
Marcam-se injustiças e intolerâncias
Onde foi que as plantei, penso afinal
Após lutas, desafios e emoção?
Num pensamento, desabafo triunfal
Eis que as encontro no fundo do teu coração.
(Afonso Celso)
Brasília,24/08/2023
BORBOLETA DA TARDE
Asas que batem e nos enlaçam com ternura
Poemas vivos a voar sempre pra nós
Repletas de encanto, de leveza e de doçura
Não canta, mas me enleva sua voz
Quanta beleza! Que pintura deslumbrante!
Que para o tempo, o pensamento e os devaneios;
Toda essa mágica que encanta num instante
Me envolve agora e me dirige galanteios.
Sei que procuras o emoldurar do fim do dia
Para aprimorar esse teu quadro de Picasso
O sol se pondo e o teu voar me acaricia
Me envolve logo num longo e terno abraço.
Amanhã voltarás com teu voo solo.
Neste mesmo entardecer de encantamentos
Exibirás todo o teu charme como Apolo.
Estarei eu aqui para te ver nesse momento?
(Afonso Celso)
Brasília,05/05/2024
AMANHECER
(Pelo povo do RS)
Uma nova luz aparece no horizonte
É intensa, brilha forte como a vida
Que o sol que aparece atrás do monte
Traga paz e alivie a dor sofrida.
Tantos dias te escondeste deste povo!
Deixaste-o à mercê das tempestades
Que bom que estás aqui de novo
Impondo a todos nós tuas vontades!
Não te vás, não te afastes tanto assim!
Te esperamos todo dia de manhã.
Tu bens sabes, tua presença para mim
É a vida, o eterno talismã.
Quanto sofrimento ocorre se te afastas!
Quanta dor, quanta perda e desespero
Até a última esperança que se arrasta
Não te vás, entendeste nosso apelo?
(Afonso Celso)
Brasília, 09/05/2024